A chamada
sociedade da informação e do conhecimento traz consigo impactos capazes
de levar a uma transformação maior que a produzida pela máquina a vapor.
Junto com novas soluções e perspectivas vêm também algumas exigências de
habilidades atuais, como saber “navegar” na Internet (algo entre o metódico
e o caótico), mas também novas exigências sobre antigas habilidades,
como o ser organizado, o saber escrever em seu idioma, ler outras línguas…
Um ambiente
virtual colaborativo e interativo pressupõe regras de convivência
que por se tratar de uma coisa nova as pessoas parecem se esquecer. Assim, é
fundamental cada um cuidar de sua aparência, ou seja, ter seu perfil online
bem preenchido, de preferência com uma foto para que os demais tenham uma
referência visual. É importantíssimo que as mensagens trocadas possuam
um mínimo de cordialidade, comecem com os tradicionais bons dias e
terminem com um abraço ou algo mais formal, tudo desde que não transmita para
a outra pessoa a impressão que você é um software ou, pior, que você acha que
ela é algo parecido com um caixa automático de banco.
Incorporar
essas tecnologias em sala de aula é uma oportunidade de abordar aspectos
da sociedade, questões éticas etc. de maneira prática e rica. As redes sociais
são um espelho das sociedades e devem ser encaradas como interessantes
oportunidades de repensar e observar condutas.
Para que
exista vida numa comunidade virtual, é importante pensar-se sempre no que
as pessoas estão fazendo ali. Pessoas só se juntam em comunidade por interesse,
por prazer ou por obrigação. Uma comunidade escolar começa por ser obrigatório
frequentar a escola. Uma comunidade profissional inicia-se pelo interesse
das pessoas em ganhar seu sustento. Um grupo de amigos fazendo um churrasco
num final de semana tem como motor o prazer do convívio.
Num ambiente
de trabalho ou convívio em rede as coisas não são diferentes. Num primeiro
momento, a curiosidade pode levar as pessoas a se cadastrar numa comunidade
virtual, mas em poucos dias o interesse inicial pode virar abandono se não
houverem interesses claros em jogo, se não houver uma necessidade real de
estar conectado, seja por lazer, por motivos políticos ou profissionais.
Assim como
na vida real pequenos lugarejos crescem economicamente ao fazerem
trocas com outros, construindo estradas e pontes a ligá-los, trocando bananas
por café através de carroças ou trens, promovendo novas amizades, casamentos,
construindo relações econômicas e culturais, num caminho que acabou levando
à construção das nações – também na vida virtual a coisa se processa de
modo semelhante, pois o fator principal é o mesmo: a humanidade.
Também como
numa comunidade real, criar e manter uma comunidade virtual dá muito trabalho,
de construção, de manutenção, de administração. No início é até mais difícil,
pois trata-se de um novo paradigma, é necessário levar as pessoas pela
mão, explicar o que é cada ambiente, como funciona cada ferramenta. Quase
como se tivéssemos que ensinar um marciano a pegar um táxi ou usar um telefone
público, coisas desconhecidas para nosso improvável alienígena.
É preciso
cuidar de construir os “edifícios” dessa comunidade (bancos, escolas, bibliotecas,
hospitais) e depois recheá-los de conteúdos e ter profissionais engajados
na sua manutenção, pois além de produtos (dinheiro no banco, livros nas bibliotecas,
remédios nas farmácias) temos aqui serviços (professores na escola, médicos
nos hospitais, juízes nos tribunais). Tudo isso exige lei e ordem, regras
claras de comportamento, bem como um mínimo de democracia para que o autoritarismo
não mate os saborosos frutos que só a liberdade produz.
Tudo isso
exige administração, uma prefeitura e alguns funcionários públicos,
senão os serviços essenciais podem impedir a fluidez de circulação dos
bits (pois que numa comunidade virtual circulam os bits e não os átomos, circulam
os bytes e não as moléculas).
Na sociedade
da informação as pessoas não mais precisam deslocar o corpo para acessarem
uma informação (tenho que pegar um ônibus e ir à biblioteca antes que
feche), mas agora fazemos a informação vir até nós. Isso muda um bocado o
jeito de fazermos coisas que já fazíamos antes, e é esta mudança paradigmática
que precisa ser trabalhada, com estímulo, com organização, com objetivos,
com esforço individual e coletivo.
SEABRA, Carlos. Redes Sociais e comunidades virtuais na educação. Oficina Digital.
Formação de Professores. Edição 2017.
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