11 de julho de 2016

Crianças vivem uma overdose de tecnologia?

Celulares e notebooks de última geração, redes sociais e jogos on-line. Como lidar com os filhos.

A molecada está ligada. Literalmente. As crianças mal conseguem sentar-se sem perder o equilíbrio e já ficam encantadas com os celulares dos adultos. Aos 3 aninhos, manipulam o mouse do computador com facilidade de fazer inveja a muitos. Lá pelos 7, 8 anos, imploram por um iPhone e um notebook, têm perfil em redes sociais e aniquilam adversários internacionais em jogos da web. É muita coisa mesmo. Sobretudo aos olhos dos pais, que, por mais acostumados com tecnologia que estejam, foram alfabetizados com livros de papel, faziam suas pesquisas em enciclopédias pesadonas e, quando adolescentes, achavam o máximo da modernidade carregar um tocador de CDs portátil.

O lado positivo da overdose de tecnologia é o surgimento de garotos e garotas mais bem informados e relacionados. Afinal, pesquisas que, há vinte anos, levavam dias para ser feitas hoje são resolvidas com alguns cliques. Dúvidas que costumavam ficar sem resposta ou demandavam consultas a livros nem sempre disponíveis na prateleira de casa ou da biblioteca escolar também estão ali pertinho, no bendito Google. Videogames exploram habilidades de raciocínio e estratégia, e até servem de meio para pôr a meninada em contato com a turma de vizinhos ou amigos estrangeiros feitos on-line. Os irmãos Clara e André Hocevar, de 7 e 11 anos, realizam a maior parte de suas atividades educacionais e de entretenimento nos aparelhinhos eletrônicos. A mãe deles, a promotora de eventos Luciana Hocevar, não se queixa dos hábitos da duplinha. “Meus filhos interagem, em tempo real, com pessoas de outras cidades, estados e até países. Isso é fantástico.”

Nesse vaivém de informações, a geração que nasceu plugada tem a possibilidade de descobrir diferenças culturais, ficar mais esperta e reunir maiores chances de se tornar adultos mais completos. Tudo isso, é claro, depende do acompanhamento atento dos pais. Na casa de Vinícius e Gustavo Gil, de 7 e 9 anos, a internet e os jogos de videogame não são proibidos. Mas há regras com relação ao horário e eles ainda não ganharam um celular. “Acredito que ele não é uma ferramenta necessária na idade em que estão”, afirma o administrador de empresas Wilson Gil, pai dos meninos. Para quem quer ir mais a fundo no controle, já existem softwares capazes de rastrear as atividades no computador. 

Criança com aparelhinho na mão sem adulto por perto não é mesmo um bom negócio. O abuso da tecnologia já é foco de atenção de médicos e psicólogos em centros especializados. No núcleo Dependência de Internet, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC), por exemplo, pacientes a partir de 11 anos recebem auxílio para reduzir o tempo de conexão. “Certa vez atendi uma mãe desesperada, que dizia com certo exagero que seu filho ficava 45 horas ininterruptas no computador, sem comer nem levantar para ir ao banheiro”, afirma o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, do HC.

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